terça-feira, 5 de novembro de 2013

Otona Joshi no ANIME TIME

A hora do anime da mulher adulta.

É um especial de 4 histórias inspiradas em contos contemporâneos que venceram prêmios de literatura escrito por mulheres para mulheres, tendo sido a primeira exibida em 2011 e as três últimas em 2013.
Tratam de mulheres na faixa dos 30 - 40 anos que refletem sobre sua posição na sociedade onde estão inseridas, suas perspectivas sobre o futuro e reminiscencias do passado.
O projeto é da NHK e os especiais foram exibidos tarde da noite, trata-se de uma maravilhosa aula de animação para o público não acostumado a ver obras de qualidade, uma vez que cada conto foi adaptado por uma equipe diferente.
Abro um parenteses aqui para falar um pouco da série sob uma ótica social-feminista, uma vez que ela apresenta personagens que só seriam possíveis no momento histórico em que nos encontramos, já que a sociedade japonesa tem se modificado muito desde o período pós-guerra e agora, na atualidade, com a globalização e o incrível intercâmbio cultural. Valores como casamento romântico, satisfação profissional, sucesso individual e são relativamente novos para aquela sociedade, e ainda mais novos para o gênero feminino; Portanto embora seja muito fácil se identificar com qualquer uma das personagens (ainda que eu tenha acabado de sair da adolescência), essas mulheres são verdadeiras párias daquela sociedade; realmente outcasts.
Pensar sobre a sua felicidade pessoal e sua satisfação e ou insatisfação com a vida que tem vivido traz sentimentos difusos para qualquer ser humano, mas para uma mulher comum japonesa traz também a culpa. (Claro, claro, o fato dessas histórias terem sido escritas, premiadas e adaptadas para uma mídia popular como a animação demonstra que muita gente tem se identificado, mas quero frisar que ainda podemos tratar essas personagens como frutos de um fenômeno atual; bem como tratamos histórias com protagonistas NEET por exemplo. Você pode ler um pouco mais sobre esse assunto nesse texto sobre A Rosa de Versalhes.)

Quanto aos contos.

Conto número 1) Kawamo wo Suberu Kaze
O conto número 1 foi exibido em 2011.
Dirigido por Hiroshi Kawamata acompanhamos a história de uma mulher de 33 anos que volta ao interior do Japão para visitar sua família depois de ter se mudado para o exterior e lá vivido pelos últimos 5 anos.
O traço e a animação são delicados e cuidadosos;
Nota-se que o exterior, no caso os Estados Unidos tem um papel importante e cosmopolita, a grande cidade e o desconhecido, enquanto o Japão é mostrado como um local aconchegante e tradicional; Bem como os doces típicos da região, o Japão não é muito doce ou luxoso, mas é o local onde os sentimentos afloram de maneira mais forte.


Com dois anos de diferença foram exibidos os outros contos.

Conto número 2) Yuuge (Jantar)

O conto de Yamada Eimi trata da vida de uma jovem esposa que, acostumada a viver conforme lhe ensinaram, decide largar tudo e se envolver com o lixeiro do bairro. A garota nunca teve um talento de destaque e mesmo sua personalidade não é muito interessante; Encontra então nessa fuga, o momento de se conectar com algo real, e vê através das refeições que prepara para seu querido uma maneira de tornar-se útil e importante.
A animação aqui é maravilhosa e marcante, intercalada com momentos live action para retratar a comida, fazendo essa ligação forte entre real e irreal, os cenários são pintados a aquarela e as cores são fortes e vibrantes e a riqueza como live-action e animação se misturam é incrível!





Conto número 3)  JINSEI BEST 10 (Os 10 melhores da vida)

Os 10 melhores momentos da vida de Hatoko, personagem do conto de Kakuta Mitsuyo, foram todos antes de seus 18 anos e não muito diferentes daqueles que a maioria de nós viveu ou viverá.
No meio do caminho a protagonista, agora na faixa dos 40 perdeu alguma coisa que lhe dava energia e disponibilidade para a vida e tornou-se uma mulher pacata que embora tenha uma promissora carreira não se entrega a nenhuma aventura.
Sua chance de repensar sua vida acontece quando ela recebe o convite para a reunião do colégio e vê o nome de seu primeiro namorado na lista dos organizadores.
Determinada a reviver o que quer que seja que tenha perdido ela prepara-se ansiosamente para a reunião enquanto repensa em seu caminho até aqui; O final desse conto é o mais surpreendente.
A animação é divertida e colorida com texturas irreais, o traço também não é tão sóbrio quanto o das outras histórias.



Conto número 4) Dokokadewanai koko (qualquer lugar menos aqui.)

Inspirado no conto de Yamamoto Fumio, a protagonista é uma mulher de 40 anos com marido apático e dois filhos já crescidos e que não a conhecem mais, que se dedica a tempo integral a família como uma boa dona de casa.Após seu marido perder o emprego ela é obrigada a encontrar uma ocupação de meio período e o faz numa loja de conveniência próxima.

A mulher não é reconhecida por seus trabalhos por nenhum membro da família, pelo contrário é constantemente lembrada pro todos de sua própria mediocridade o que a leva a desenvolver um quadro depressivo enquanto percebe-se sem vontade de fazer qualquer coisa.
Seu dia-a-dia é recheado de ocupações como dona de casa, mãe e trabalhadora, e assim ela acompanha sua energia ser sugada e tem seu único momento de verdadeira felicidade quando dorme e esquece de tudo, o que acaba acontecendo com mais frequência do que deveria.
A animação em si não é inovadora nesse conto, no entanto, o diretor é muito feliz no modo como retrata a depressão da mulher tomando parte dela e os apagões e lapsos que ela tem durante suas amadas sonecas diárias e a mediocridade de sua rotina. 


Os 4 episódios somam 2h no total, aproximadamente a duração de um filme, parece-me então que ao saber da existência dessa série assisti-la se torne uma obrigação para qualquer fã de animação japonesa.
As nuances das personagens são tratadas de maneiras muito diferentes pelos diretores, enquanto alguns escolhem fazer uso do texto, outros da própria animação e dos recursos visuais, deixando que ao final dos quatro contos o espectador tenha uma noção maior do leque de possibilidades disponíveis ao transpor literatura para áudio-visual. É uma verdadeira aula de roteiro e direção, bem como das maravilhas que a animação pode criar, já que várias das barreiras dos filmes em live-action não existem nas animações.
Recomendo para todos, especialmente fãs de histórias para mulheres, mas sinto necessidade de citar a obra Aoi Bungaku, que tem um formato parecido, e salta mais aos meus olhos.
(Lembrando que eu li os livros que inspiraram a série Aoi Bungaku (literatura azul), e comentei sobre um deles aqui ).

2 comentários:

  1. eu adorei! poxa clarinha que linda dica!
    fique com vontade de ver apesar d e nunca ter lido/visto nada jousei - me é comum o shoujo e shounen

    e poxa adorei saber que vc tem um blog e que tem a Gato &canela nele (lojinha amor *---*) -agora sim! dah pra tricotar contar contigo minha flor *-*

    bjooo

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