sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Sobre Elefante






Inspirado na tragédia em Columbine onde estudantes entraram no colégio atirando contra seus colegas, Elefante de Gus Van Sant ilustra de maneira trivial um dia numa escola no interior do Oregon.
Com narrativa fragmentada e uma cronologia em looping Elefante segue o dia de alguns estudantes do colegial, não há uma incrível dramatização sobre suas vidas apenas um retrato do que seria um dia normal, cada um imerso em seu próprio universo, tão distantes mas ainda assim tão próximos.
Essa banalidade dos personagens e dos acontecimentos é o grande trunfo do filme que selecionará até seu final sobreviventes e vítimas de um massacre simplesmente baseados no acaso e não em algum tipo de mérito ou moral.
Entre os garotos cuja vida é mostrada estão os dois que seriam mais tarde responsáveis pelo massacre na escola, nem esses são mostrados sobre uma ótica moralista ou culpabilizadora, são garotos comuns vivendo naquele mesmo ambiente sufocante. O filme não desperta um desejo de vingança do público contra os alunos que atormentavam os futuros assassinos, assim como também não nos afasta dos assassinos que não são  retratados como maníacos, pelo contrário, simples estudantes que falam de seus planos com certa excitação adolescente e o colocam em ação  de maneira muito simples. 
A cronologia suspensa gera uma tensão no espectador que fica a todo momento se perguntando se o banho de sangue já está para começar e constantemente tem essa ansiedade frustrada por mais imagens de um dia-a-dia ordinário de pessoas ordinárias.
(Preciso colocar um adendo aqui, existe uma pequena cena onde os jovens que planejaram o massacre jogam um video-game estilo Counter Strike. O filme, friso novamente, não tem a mínima intenção de apontar culpados ou vítimas, apenas de mostrar a banalidade do dia-a-dia e de como uma ação vai se amarrando a próxima; Mas me causou certo desconforto ver o vídeo-game ser citado, ainda que como um fator banal.)
Para colaborar com essa sensação comum de banalidade o diretor usa câmeras fixas sem focar em um personagem e outro, apenas registrando o que se passa e uma porção de planos sequência que registram, não apenas o personagem em foco mas seus arredores. Essa ideia nos aproxima das personagens uma vez que vamos seguindo seus passos pelo colégio, mas também nos coloca afastados como um observador em um documentário.
A fotografia e a paleta em tons de verde quebram a estética completamente documental do colégio e adicionam uma atmosfera mais lírica, o que colabora para a criação de um ambiente melancólico.
O filme é lindíssimo e merece ser assistido, exatamente por não ter pretensão a priori de ser uma análise profunda do emocional daquelas pessoas, mas sim um retrato onde vários universos coexistem e se chocam, alguns são interessantes, outros apenas tediosos.



(Duas peças de Beethoven são tocadas durante o filme, Für Elise e Moonlight Sonata, não sei exatamente o motivo delas terem sido escolhidas, mas como Brasileira e acostumada a ouvir Für Elise como a eterna musiquinha do gás, a escolha dessa música ajudou e muito a deixar o cotidiano daqueles jovens ainda mais medíocre, o que foi contrabalanceado com a dramática Moonlight Sonata.)

Então é, às vezes um Elefante na sala de estar incomoda. 

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