quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Assistindo Evangelion com a Clara - ep 01

Hoje vim revelar o meu lado megalomaníaco que acha que vai dar conta de levar esse projeto até o final: Assistir e comentar Evangelion.

A gente, a gente gente normal, tem o costume de perder muita coisa quando assiste a um filme ou anime, ficamos muito focados na estória e acabamos perdendo as entrelinhas. Cinema e animação são artes visuais, o anime, tem uma ligação muito forte com o cinema e é preciso que a gente se dedique a assistir aquilo que está nas entrelinhas também para compreender um pouco mais do trabalho do diretor. Algumas obras em especiais são menos explicativas e se apoiam mais na herança cinematográfica, Evangelion é uma dessas.
 Se você já tiver assistido Evangelion ótimo,  do contrário vamos assistir juntos, ok!? Episódio por episódio, parando para comentar e digerir o que nos foi apresentado.
Toda vez que eu for comentar algum spoiler eu vou avisar, então não se preocupe; meu intuito é escrever o que eu vi naquilo que me foi apresentado, vou tentar ao máximo esquecer tudo que eu sei de Evangelion e ver como se fosse a primeira vez. (Só que é a sétima eu acho) e como alguém que está em 2012 e sabe como funciona a nossa atual indústria de anime. (cheia de personagens moe, tsunderes etc)
Vamos lá?






ANTES DE ASSISTIR:
O que eu sei sobre Evangelion?
De que ano ele é? 1995.
Em que ano se passa? 2015.
Ok, futuro próximo da época em que foi feito;

EPISÓDIO 1 ANGEL ATTACK

Antes de conhecermos qualquer personagem nos vemos numa cidade grande com tanques de guerra na rua e avisos de evacuação. Apesar dessa situação de guerra, somos apresentados a um protagonista que parece não muito incomodado; como se estivesse acostumado a este tipo de ambientação mas que definitivamente fica espantado com a criatura gigante que acaba de ver.
Nos primeiros 5 minutos de Evangelion, temos explosões, monstros e uma mulher bonitona em roupas mínimas. Seria isso um chamativo para o público-alvo? Sim.
Se o começo do episódio for dinâmico isso fará as pessoas pararem para assistir.
 "E agora? Esse era o nosso último recurso!!" - diz o general ao tentar derrotar o Angel sem sucesso.
"Agora usaremos a unidade 01" - diz o comandante Ikari.
Oh! O que será unidade 01? O que será esse monstro?? - Diz você
Ok, prendi sua atenção.

Apesar da grande sequência de explosões na cidade, a atmosfera ainda é calma, não é possível ouvir gritos ou desespero humano, a cidade parece deserta, a não ser pelos generais da ONU, escondidos em algum lugar, Shinji e Misato fugindo de carro da confusão.
Essa atmosfera de cidade vazia num clima pós apocalíptico reflete diretamente na psique das personagens.

7:13
Além de um angulo que mostra a perna da Capitã (o que atraí telespectadores), esta cena já nos mostra duas coisas.
1- Misato é confortável com o próprio corpo, o que exala uma certa maturidade, ainda que sua fala não seja muito confiável até agora.
2- Shinji não é confortável com o próprio corpo e já a encara como objeto sexual. Shinji é também pudico. Bom, não sabemos ainda quantos anos ele tem, ma se veste como colegial, logo é adolescente. Essa fase da vida faz com que as pessoas estejam com os hormônios mais a flor da pele, e por isso, a coxa saliente da mulher, pode ser razão de incomodo.


A postura corporal e o ângulo escolhidos
mostram como Shinji se sente inferiorizado e
assustado com essa estranha situação em que se encontra.
Existe uma cena interessante onde Ritsuko, Misato e Shinji sobem uma escada rolante. A luz é contraposta então só vemos suas silhuetas e um líquido vermelho atrás deles. Shinji permanece a cena toda concentrado no manual que pediram para que lesse, como alguém que está disposto a fazer o que lhe é pedido a todo custo, enquanto as duas conversam sobre a batalha atual em termos que o garoto ou não pode entender ou não quer entender pois está realmente concentrado no que lê.
Sua concentração é tanta que Shinji não percebe a mão gigante de robô que passa por trás dos três.
Poucas cenas antes ele estava prestando atenção em todos os detalhes da NERV, mas uma vez que lhe deram uma tarefa - leia o manual - ele se torna alheio a tudo querendo apenas terminar a tarefa dada.


Agora vem a cena clássica.
Shinji encontra a unidade 01, toma um susto e franze a sobrancelha assim que lhe falam que ela é fruto do trabalho de seu pai. Aparece então o comandante Ikari, calmo, não aparentando ser alguém que não vê o filho há três anos, e o menino responde o cumprimento com um olhar que só pode ser definido como assustado. - escolheram uma 'câmera' aérea coincidentemente próxima do que seria o olhar do pai nesse momento.
Shinji desvia o olhar. Não conhecemos a relação desses dois mas é óbvio que existe algo de muito estranho, e o desvio de olhar mostra que o garoto não consegue enfrentar o pai de frente.

As adultas começam a discutir o futuro do protagonista que permanece com um olhar apático, até que se torna petulante  e decide tentar enfrentar o pai!
Vemos o rosto do pai de uma 'câmera' que simula a visão de Shinji.
O pai está no alto, o filho está embaixo.
Olhar cabisbaixo, choro contido , punhos cerrados mostram o quão difícil é para ele enfrentar o pai.
O mesmo Shinji não parece tão tímido ao reclamar com a capitã pouco tempo antes na cena do carro, ou na  próxima cena quando entra pela primeira vez no EVA. Então, a gente entendeu, o negócio dele é com o pai!

Ok, por hoje já está bom eu acho.
Esse texto saiu bagunçado mas imagino que se esse meu projeto for pra frente eu vá aprender a organizar melhor as ideias.

Obs 1:  Da pra perceber vários elementos da década de 90 no design de Evangelion. Ainda que os EVAS sejam os primeiros robôs não-quadrados, a interface dos objetos ainda é cheia de resquícios de uma estética 80 90. Existem vários erros cometidos na previsão do que seria uma estética futurista, a começar pelos uniformes da NERV, os carros, a escolha de cores enfim...

7 comentários:

  1. O curioso é que Evangelion até hoje mantém seu papel como um grande divisor de águas na animação japonesa e sua análise é interessante por tocar em um tema pouco explorado entre o público fã.

    E por mais que seja uma animação revolucionária, em sua base é um anime bem simples. Seu enredo consta com estereótipos bem clássicos, cada um com papel fixo. Ao invés de surpreender ou criar conceito, a preocupação do Anno é explorar suas personagens, e daí vem o tom humano do roteiro.

    Até mesmo a trama, considerada rica e extensa, ainda remota aos recursos narrativos dos animes de sci-fi da década de 90.
    Em relação ao design, vamos com calma. A inspiração dos EVAs passa longe dos robôs militarizados do Yoshiyuki Tomino, eles lembram mais coisas como o Mazinger Z, do Go Nagai, seja em nível de escala, poder e até mesmo o que ele representa na trama.

    Quanto as suas observações sobre futurismo, não esqueça o plot. No campo da especulação podemos concluir que o segundo impacto atrasou a humanidade em questões como arquitetura, design e etc.

    E na questão do “futurismo”, calma. Isaac Asimov e Frank Hebert conceberam sociedades distintas, com valores e noções estéticas bem peculiares. Nesse conceito, Neon Genesis Evangelion é mais pós-apocalíptico que especulativo.

    Vale lembrar que construímos “futuros” levando em consideração a sociedade atual e como podemos preconizar o que vem adiante, e é o tipo de coisa que muda de tempos em tempos. No ramo da literatura fantástica, cada vez mais se fala em “presente especulativo”.

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  2. E por mais que seja uma animação revolucionária, em sua base é um anime bem simples. Seu enredo consta com estereótipos bem clássicos, cada um com papel fixo. Ao invés de surpreender ou criar conceito, a preocupação do Anno é explorar suas personagens, e daí vem o tom humano do roteiro.

    OBRIGADA POR FALAR EXATAMENTE O QUE EU PENSO! Por essas que eu não consigo engolir personagens ao estilo Ayanami Rei e derivados fora de Evangelion.


    Quanto ao futurismo da série, eu fiz apenas uma observação. Acho o design de produção bem típico da década de 90 e 80, não acho que isso seja um defeito.
    Mas não cairia bem para uma série sendo produzida hoje em dia.
    Tal qual laranja Mecânica do Kubrick tem vários 'erros' no futuro construído (por exemplo figurino do Alex na cena da loja de discos, terno roxo de veludo.Muito anos 70) Mas também é um clássico.
    Realmente, partindo do princípio que houve o segundo impacto é mais digerível que o futuro esteja assim tão ligado ao passado;
    Mas, assim como a Laranja mecânica, não dá pra gente não saber em que época foi produzida. Digo de novo, não é um defeito!!!

    Quanto ao design dos Evangelions eu reproduzo o que li em estudos por ai, não sou fanática por animes de meccha, mas vi estudos sobre Eva dizendo que uma das funções importantes da série é ter revolucionado o design de robôs.


    Enfim, vou tentar abordar a série com olhos de alguém que assiste pela primeira vez, e com foque no caráter cinematográfico e aspectos de direção. Obvio que meu conhecimento sobre os dois assuntos é muito empírico uma vez que eu não sou diretora, só uma curiosa. Mas acho que vai ser divertido porque posso contar com amigos que também gostam bastante da série e vão poder comentar de vez em quando, concordando comigo ou não. :3

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  3. Acabei de ver que eu escrevi que era um erro das previsões. É um erro histórico mas não um defeito da série, a gente joga com o que tem, eles fizeram um bom trabalho de pesquisa.

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  4. Ei! Eu não assisti evangelion, só comprei o manga até a conrad parar de publicar. Espero que você continue com essa série, porque nas férias quero assistir evangelion com a ruiva! n_n

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    1. AEEE1!!! ACHEI ALGUÉM PARA SERVIR DE COBAIA!!! eu queria muito que alguém que não tivesse assistido começasse a ler minha coluninha. Por favor veja nas férias! (O anime é incomparavelmente melhor do que o mangá)

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  5. Então Clara, finalmente estou comentando aqui rsrs,

    Gostei do te review do primeiro episódio, gostaria de salientar a parte sobre o cuidado do anime em tentar capturar a atenção do espectador no começo.

    Eu pessoalmente acredito que isso não seja nem obre do Anno, e sim da equipe de produção, eu vejo o Anno dando o acontecimento do episódio em um escopo mais genérico, deixando os produtores livres para transformar aquilo em algo que o público irá gostar.

    O que é totalmente normal, tem uma regra ou ditado nesse meio, que eu falho em me lembrar corretamente qual é :P, que fala exatamente do fato de capturar a atenção nos primeiros instantes de uma animação, filme, jogo, enfim, qualquer forma de entretenimento.

    É isso que eu vejo também com o começo do anime, afinal quem vê apenas os 5 primeiros minutos, fica com uma impressão que o anime será inteiro com grandes batalhas entre mechas com explosões, bombas e mulheres de shortinho.. o que no fundo é bem o contrário (na minha opinião) o que acontece no geral do anime.

    Voltando ao review, eu acho que faltou você ter falado um pouco sobre o momento que o Shinji entra no Eva, a sua reação dentro dele e claro ele entrando em modo berserk (que eu não me recordo se só aparece nesse episódio ou no próximo).

    Você planeja explorar o lado psicológico de cada personagem? Como o fato do Shinji temer machucar os outros, ou a Asuka esconder seu verdadeiro eu por trás de uma máscara e talz?

    Por fim, gostaria de te fazer uma proposta (que, se você levar em consideração o tempo que eu demorei para fazer um comentário aqui, vai demorar para se concretizar), eu não me recordo se você gosta de FLCL, eu pessoalmente considero FLCL meu anime número 1, e faz anos (acho que mais de 6) que eu tinha começado a traduzi-lo para português, basicamente todas as traduções, inclusive as em inglês são umas belas bostas, o que contribui em muito naquela visão de que o anime conta uma história sem pé nem cabeça, o que é totalmente errado..

    Então eu quero, quando me sobrar tempo, retomar a tradução, quando eu tinha parado eu já estava no episódio 3, então falta +- a metade ainda para fazer, e ai o fato de tu ja saber japonês seria bem interessante para arrumar erros que eu não tenha percebido. Quem sabe podemos ver de fazer isso quando eu ir para ai sei la..

    Alias, fica a ideia, podias fazer um post que nem esse sobre FLCL ;)

    Bem, fui, e fico na espera do post sobre o segundo episódio o/

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  6. Eduardo,
    Sim, eu quero tratar do lado psicológico das personagens mas sem dar spoilers, porque a ideia é que quem nunca assistiu possa ler os reviews e ir acompanhando e pescando algumas dicas. Mesmo porque tem várias referências em EVA que eu não pesco, principalmente as sobre religião, assunto que eu sei muito pouco!
    (eu estou deprimidíssima com o andamento desse novo filme, mas isso conversamos depois).
    E sim, eu acho que esse episódio é bem isso, tentar convencer o máximo possível de pessoas a assistir, e sobre como vai ser legal e ter várias explosões e mulheres bonitinhas.

    Topo muito escrever sobre FLCL e assistir de novo quando você traduzir, eu vi uma vez só e adorei, mas estava com uma legenda em Inglês e realemnte meio.... estranha. Só começou a fazer sentido pra lá do episódio 4.

    Tenho uma recomendação para você, assista Love & Pop! é um filme dirigido pelo Anno!

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